terça-feira, 18 de novembro de 2008

Falemos de avaliação, falemos de educação.









Na blogosfera, na comunicação social, todo o mundo fala de avaliação. No caso concreto dos professores, origem de toda esta discussão, do que se trata é dum sistema formal de avaliação de desempenho, abreviando sfad.

Os sfad, em poucas palavras, destinam-se levar a linha justa às massas, e a levar as massas a aceitar a linha justa. Não, não tem nada a ver com o livro vermelho do Mao. A sua introdução deve-se a grandes empresas americanas, e em particular as que empregam uma elevada percentagem de pessoal qualificado.

O sfad é, para a gestão duma grande corporação, por vezes de âmbito multinacional, um instrumento privilegiado para levar aos diversos níveis de gestão, e a cada trabalhador, a filosofia empresarial e objectivos da empresa, e simultaneamente conseguir a adesão da generalidade do pessoal.

A adesão dos trabalhadores é estimulada por um conjunto de benefícios que acompanham a avaliação: prémios, promoções, aumentos salariais. Em muitos casos, a avaliação não tem um peso muito significativo na evolução das carreiras; e as recompensas pecuniárias, embora com gradações, beneficiam a generalidade dos trabalhadores(*).

Ver aqui, muito esclarecedor, um post com as linhas gerais de funcionamento do sfad da IBM Portugal, nos anos 70/80 (**). Um sfad não avalia o mérito em si, mas o desempenho dos trabalhadores face aos objectivos traçados.

Claro que o Ministério de Educação tem toda a legitimidade, para criar e implantar um sfad que leve aos professores as orientações do Ministério, e mobilize a sua adesão a esses objectivos. Só que este sfad não tem nada a ver com isso, não se vislumbram nele quaisquer objectivos que visem a efectiva melhoria do ensino; e quanto a conseguir a adesão dos professores ao processo, pior era impossível.

Se o que se pretende é mesmo melhorar a qualidade do ensino nas escolas publicas, então haverá certamente outras soluções.

Por exemplo, hoje no Publico, Desidério Murcho (ver aqui), defende que “exames nacionais rigorosos são simultaneamente uma maneira objectiva e simples de avaliar professores e escolas, e de estimular os estudantes a esforçar-se”, depois de ter começado por chamar a atenção para que “a solidez da formação científica dos professores é um factor crucial para a qualidade do ensino”.

É tempo de parar para pensar. Meter numa gaveta qualquer este sfad, ao que parece criado sob os auspícios do grande desígnio nacional da redução do deficit, e começar a discutir seriamente os objectivos e funcionamento da escola pública em Portugal.

(*) Nem pode ser de outro modo se o que se pretende é o empenho de todos.

(**) Não concordamos com algumas das conclusões do post, como é claro do que se escreveu acima, mas pensamos que seria util o seu autor, Penim Redondo, falar-nos um pouco mais da sua experiência directa com o sfad da empresa onde trabalhou, e se não for pedir muito, fazer uma análise critica dessa experiência.

2 comentários:

Alien David Sousa disse...

Eduardo, não creio que a Ministra esteja disposta a "parar para pensar". De tudo o que tenho ouvido e observado não creio que esta tenha parado para pensar, pensar como deve ser.


"e começar a discutir seriamente os objectivos e funcionamento da escola pública em Portugal."

Concordo contigo, no entanto enquanto estivermos nas mãos de um governo autista, temo que seja impossível.

Saudações alienígenas&kiss

F. Penim Redondo disse...

Algumas observações a propósito daquilo que nós chamávamos na IBM o "Appraisal & Counseling".

1. Uma empresa como a IBM sabia mais disto a dormir do que vários ministérios acordados.

2. Um sistema de avaliação numa empresa avançada, constituída por empregados com níveis elevados, é em minha opinião conseguir uma assunção de responsabilidades em alto grau.

3. No sistema da IBM, enquanto houve possibilidade de recompensar o "mérito", cada empregado geria as suas responsabilidades e tarefas com grande independência e sentido de responsabilidade.

4. Uma das consequências do método é a libertação das chefias para gerir os negócios em vez de terem que andar todos os dias a controlar a execução.

5. A avaliação era também uma forma de formalizar e documentar a capacidade dos chefes de cada nível para liderar o seu grupo de empregados, o que é crucial quando há muitos níveis de chefias.

6. Claro que ninguém me perguntou, quando fui admitido na IBM, se eu concordava ou não com o sistema de avaliação.

Em Portugal a administração pública precisava, por razões óbvias, de praticar estes métodos.