Na blogosfera, na comunicação social, todo o mundo fala de avaliação. No caso concreto dos professores, origem de toda esta discussão, do que se trata é dum sistema formal de avaliação de desempenho, abreviando sfad.
Os sfad, em poucas palavras, destinam-se levar a linha justa às massas, e a levar as massas a aceitar a linha justa. Não, não tem nada a ver com o livro vermelho do Mao. A sua introdução deve-se a grandes empresas americanas, e em particular as que empregam uma elevada percentagem de pessoal qualificado.
O sfad é, para a gestão duma grande corporação, por vezes de âmbito multinacional, um instrumento privilegiado para levar aos diversos níveis de gestão, e a cada trabalhador, a filosofia empresarial e objectivos da empresa, e simultaneamente conseguir a adesão da generalidade do pessoal.
A adesão dos trabalhadores é estimulada por um conjunto de benefícios que acompanham a avaliação: prémios, promoções, aumentos salariais. Em muitos casos, a avaliação não tem um peso muito significativo na evolução das carreiras; e as recompensas pecuniárias, embora com gradações, beneficiam a generalidade dos trabalhadores(*).
Ver aqui, muito esclarecedor, um post com as linhas gerais de funcionamento do sfad da IBM Portugal, nos anos 70/80 (**). Um sfad não avalia o mérito em si, mas o desempenho dos trabalhadores face aos objectivos traçados.
Claro que o Ministério de Educação tem toda a legitimidade, para criar e implantar um sfad que leve aos professores as orientações do Ministério, e mobilize a sua adesão a esses objectivos. Só que este sfad não tem nada a ver com isso, não se vislumbram nele quaisquer objectivos que visem a efectiva melhoria do ensino; e quanto a conseguir a adesão dos professores ao processo, pior era impossível.
Se o que se pretende é mesmo melhorar a qualidade do ensino nas escolas publicas, então haverá certamente outras soluções.
Por exemplo, hoje no Publico, Desidério Murcho (ver aqui), defende que “exames nacionais rigorosos são simultaneamente uma maneira objectiva e simples de avaliar professores e escolas, e de estimular os estudantes a esforçar-se”, depois de ter começado por chamar a atenção para que “a solidez da formação científica dos professores é um factor crucial para a qualidade do ensino”.
É tempo de parar para pensar. Meter numa gaveta qualquer este sfad, ao que parece criado sob os auspícios do grande desígnio nacional da redução do deficit, e começar a discutir seriamente os objectivos e funcionamento da escola pública em Portugal.
(*) Nem pode ser de outro modo se o que se pretende é o empenho de todos.
(**) Não concordamos com algumas das conclusões do post, como é claro do que se escreveu acima, mas pensamos que seria util o seu autor, Penim Redondo, falar-nos um pouco mais da sua experiência directa com o sfad da empresa onde trabalhou, e se não for pedir muito, fazer uma análise critica dessa experiência.